2 May 2007

cair na real

Há dias, garantiam-me que, com dinheiro, se podia viver muito bem em Lisboa... com dinheiro, assim entre vírgulas, pode-se viver muito bem em muitos sítios.
Como prova da minha boa vontade, lá estava eu sentada na esplanada ao pé do rio, com uns seis empregados de serviço, todos vestidos a condizer com as mãos no bolso do avental, decerto pagos com esse dinheiro com que se pode viver muito bem. Os nossos sumos é que ficaram cinco minutos esquecidos em cima do balcão. Passou-se o mesmo com o bife, salvaram-se as batatas pala-pala, mas o molho estava frio.
Depois tentei jantar uma alheira com grelos. Afinal teve que ser com bróculos cozidos, se eu não me importasse... até me importava, mas não se pode dizer que me tenham dado opção, já que só me informaram da escassez de grelos quando começaram a servir os outros pratos da mesa.
Tentei comer um mil-folhas, para matar saudades, mas o creme tinha sabor a limão. Ao menos o quarto de Vigor ainda vem numa garrafa de vidro!
E ainda estivémos naquele sítio com vista sobre a cidade, muito agradável, onde até tivémos que ir lá dentro pedir para gastar o tal dinheiro com que se pode viver muito bem em Lisboa. Eu, quanto a mim, tinha ficado a curtir as vistas totalmente grátis, que também se vive muito bem assim...

Decidi passear pela rua e ver as montras. Bom, passear pela estrada, que nos passeios estão os carros das pessoas que com dinheiro vivem muito bem em Lisboa. Quando se acaba o passeio, começa o entulho. Comecei a reclamar que era uma visão terceiro-mundista, mas o Gonçalo rectificou que no dito terceiro mundo, pelo menos nos tais sítios frequentados pelas pessoas que com dinheiro vivem muito bem, há passeios e polícia na rua. Tive que admitir, aqui somos mais igualitários, o entulho na rua é para todos. Não vi tantas montras como gostaria. As galerias comerciais sucedem-se umas às outras, todas de vidro, luminosas e com um pátio interior com esplanadas. Todas têm imensas lojas vazias forradas a papel de embrulho. Pelos vistos, o tal dinheiro com que em Lisboa se pode viver muito bem não chega para comprar todas as coisas que um dia estiveram à venda nessas galerias...


1 comment:

Unknown said...

e eu é que quero bater no mundo inteiro...até chorei quando li isto.sfinal não sou só eu a ter visões neste país de primeiro mundo...