"O Governo aprovou a celebração de casamentos religiosos, com efeitos civis, a comunidades religiosas radicadas em Portugal há mais de 30 anos."
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Se esta esquerda bem pensante prentendesse, de facto, acabar com as prerrogativas da Igreja Católica em Portugal, acabava com elas, em vez de andar a distribuir alegremente prerrogativas e benesses pelas demais confissões religiosas. De acordo com os valores laicos da República, consagrados na Constituição, revogem-se os benefícios fiscais concedidos à Igreja Católica, acabe-se com as aulas de religião nas escolas públicas, proceda-se à revisão da Concordata com a Santa Sé, separe-se o casamento civil do casamento católico. Legisle-se no sentido de acabar com uma situação de favor mantida por razões históricas e sociais, não criando vários sucedâneos dessa mesma situação.
Não quero mal-entendidos. Casei-me segundo o rito católico, tenciono baptizar os filhos que vier a ter e educá-los em conformidade com esses valores. Não espero é que seja o Estado a dar catequese aos meus filhos. Os compromissos que assumo por convicção privada não têm que se traduzir numa obrigação de prestação pública do Estado. Nunca entendi porque é que há aulas de religião nas escolas, e principalmente nas públicas.
Sou católica mas acredito num Estado laico e não vejo incompatibilidade entre uma e outra coisa. Agora que andamos todos outra vez a falar do Tratado e da defunta Constituição Europeia, não posso deixar de insistir em que o que nos define verdadeiramente, o legado cultural da Europa para o mundo, não são tanto as suas raízes cristãs, mas a capacidade de traçar essa linha conceptual entre o Estado e a Igreja, entre o temporal e o espiritual, e de conviver com ambas as realidades sem sucumbir a uma luta de poder entre elas.