31 May 2007

o Alberto João é que tem razão

"Se o país agarrasse nos seus 12% de licenciados (em Espanha são 23%) e aplicasse muito dinheiro em bolsas no estrangeiro teria a certeza de que pelo menos esses poucos estudariam entre os melhores - e voltariam (faria parte do acordo) mais preparados para os desafios do país."

Martim Avillez Figueiredo, hoje in Diário Económico

... Lisboa está cheia de cubanos.

29 May 2007

afinal o gajo até é honesto

"Fazer um aeroporto na margem Sul seria um projecto megalómano e faraónico, porque, além das questões ambientais, não há gente, não há hospitais, não há escolas, não há hotéis, não há comércio, pelo que seria preciso levar para lá milhões de pessoas."

Pois claro! Se fazer o que quer que seja em Portugal implica, pela natureza das coisas, uma derrapagem orçamental e diversos gastos ocultos, imaginem lá a derrapagem que não levava o orçamento se, para além do aeroporto, ainda fosse preciso construir os hospitais, as escolas e as urbanizações onde os tais milhões de pessoas teriam que viver?! Então e o saco azul para lá na Câmara aprovarem o licenciamento da obra, e o duplex que é para o sobrinho do Sr. Presidente?! Vai ser preciso construir um centro comercial, para incentivar o comércio. E o parque de estacionamento?! Certamente, em área ambiental protegida. Mais uns trocos para desqualificar os terrenos...e a empresa municipal que vai fazer o fornecimento de não-sei-quê ao hospital?? E umas quantas rotundas que sempre se gasta mais alcatrão, e o maldito repucho à entrada da vila, com o monumento ao 25 de Abril?! E o hotel?! Com campo de golfe, claro está? Vocês sabem quanto é que custa regar um campo de golfe?

Um gajo a tentar poupar uns trocos, a bem da Nação, e esta pandilha de ingratos a cair-lhe encima! Não há direito!

23 May 2007

quero ter 18 anos outra vez

Ir ao Youtube à procura do nosso arquivo mental pode ter estas consequências. Eu só queria a canção das flores dos Einstürzende Neubauten, mas vídeo puxa vídeo e, 2 horas depois, deixo aqui a minha canção favorita dos H-Blockx (e pensar que achava este gajo gordo uma brasa!!).
Nunca mais se ouviu falar deles, nem dos Guano Apes. Julgo que o crossover alemão acabou, é pena. Estou a ficar sentimental, fica prometido um post com os Thumb que foram a minha última k7 pirata.

Einstürzende Neubauten - Blume

Há dois dias que está um céu de chumbo e trovoada sobre Madrid, assim que decidi ir à procura das flores da Primavera.
Dizem que as abelhas estão doentes...talvez um dia só nos reste mesmo uma ideia conceptual das flores.

20 May 2007

e foram felizes para sempre III

Olééé, Olé...olé, olé, olé!

Y-M-C-A-A-A-A!

e foram felizes para sempre II

o irmão do noivo, o noivo, a noiva e os suspeitos do costume

e foram felizes para sempre




16 May 2007

segredos bem guardados

Calle Toledo, 18 - Madrid

alpercatas do 18 ao 40'e muitos, de todas as cores

Para mim, vir aqui uma vez por ano é como cumprir um ritual. A senhora da frente mete conversa comigo, uns turistas curiosos vêm indagar que alvoroço é este e decidem ficar também na fila. Já dentro da loja, no meio de uma barafunda bastante ordenada, sou assaltada por dúvidas filosóficas ao ver todas as cores disponíveis, alinhadas à minha frente.

Estar uma hora na fila para comprar alpercatas, é mais ou menos como comer huevos rotos, dormir a sesta no Verão, ou dizer palavrões… pequenos prazeres que me fazem sentir um bocadinho madrilena.

fundo de armário

Mudança de estação. Passei o dia a arrumar armários.
Confirmo que o Universo está em expansão...

14 May 2007

Ao Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros

Excelência,

Dirigi-me hoje ao Consulado Geral de Portugal em Madrid com a finalidade de renovar o meu B.I., recentemente caducado.

Já em 2004 me havia dirigido a estes Serviços com a mesma pretensão, tendo então o funcionário consular desaconselhado a renovação do B.I., por este só caducar em 2007, apesar da minha 1) manifesta mudança de residência, 2) mudança de estado civil, e 3) mudança de nome. Em consequência, todos meus documentos posteriormente emitidos pelas autoridades espanholas reflectem esta desactualização dos meus elementos de identificação.

Ocurrida a dita caducidade e afastada assim tamanha causa impeditiva, dirigi-me novamente ao Consulado Geral de Portugal em Madrid, onde após um muito cordial "- Diga lá o que é que quer.", foi-me perguntado se eu não contava ir proximamente a Portugal. É que em Portugal, foi-me informado, poderia renovar o meu B.I. "na hora". Expliquei que não tinha pressa, que estava munida de todos os documentos necessários, e que não tinha porque ir de propósito a Portugal pagar taxas de urgência, apenas porque no Consulado onde estou inscrita desde 2004 me desincentivam reiteradamente a tramitar o processo junto dos seus Serviços.

Afinal não era para me desincentivar, era apenas para me informar: "As pessoas têm que ser informadas!". Ainda assim, pediram-me para facilitar os trocos.

Apesar deste aparente afã informativo, nunca consegui obter informações coincidentes por parte do Consulado, relativamente ao processo de transferência dos cadernos eleitorais. Trabalho, e por isso nunca tive a disponibilidade de tempo necessária para fazer plantão diante do Consulado e para pedir o livro de reclamações como se impunha.

V. Excelência deverá, por isso, compreender, que eu não tenha contribuído para a eleição do Governo a que V. Excelência pertence. O ritmo da alternância parlamentar entre 2004 e 2007, tornava muito dispendioso o exercício do meu direito de voto, visto o mesmo ter de ser exercido na minha antiga escola primária em Lisboa (e com o meu B.I. desactualizado, bem entendidos).

Informo V. Excelência do exposto acima. Informo e rogo a V. Excelência que encerre o Consulado Geral de Portugal em Madrid por manifesta inutilidade.

Os portugueses residentes em Madrid assumem o custo das viagens a Portugal para tratar das papeladas "na hora", e V. Excelência ainda poupa no orçamento do MNE. Poupe no orçamento e poupe-nos a todos do estafado discurso sobre a dignificação da rede consular e do apoio às comunidades emigrantes.

P.D.

9 May 2007

era uma vez um gato maltês

"Malta já é mais rica do que Portugal"

in Diário Económico, 08-05-2007

(não sei se ainda toca piano e fala francês, pois o artigo não falava realmente do gato, ou de Malta, mas do défice acima dos 3% em Portugal, que só será corrigido lá para as calendas gregas... não é por nada, mas se eu fosse o gato maltês, chateava-me. O artigo podia ter outro título qualquer, mas este título o que põe em evidência é a arrogância de pensar que A ou B deveriam ser, pela ordem natural das coisas, menos desenvolvidos, mais pobres, ou menos seja lá o que fôr que nós próprios. Lamento informar, mas isto não é um concurso e não há prémios de consolação)

2 May 2007

um velho amigo (2)














Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.


Liberdade, Sophia de Mello Breyner Andresen

cair na real

Há dias, garantiam-me que, com dinheiro, se podia viver muito bem em Lisboa... com dinheiro, assim entre vírgulas, pode-se viver muito bem em muitos sítios.
Como prova da minha boa vontade, lá estava eu sentada na esplanada ao pé do rio, com uns seis empregados de serviço, todos vestidos a condizer com as mãos no bolso do avental, decerto pagos com esse dinheiro com que se pode viver muito bem. Os nossos sumos é que ficaram cinco minutos esquecidos em cima do balcão. Passou-se o mesmo com o bife, salvaram-se as batatas pala-pala, mas o molho estava frio.
Depois tentei jantar uma alheira com grelos. Afinal teve que ser com bróculos cozidos, se eu não me importasse... até me importava, mas não se pode dizer que me tenham dado opção, já que só me informaram da escassez de grelos quando começaram a servir os outros pratos da mesa.
Tentei comer um mil-folhas, para matar saudades, mas o creme tinha sabor a limão. Ao menos o quarto de Vigor ainda vem numa garrafa de vidro!
E ainda estivémos naquele sítio com vista sobre a cidade, muito agradável, onde até tivémos que ir lá dentro pedir para gastar o tal dinheiro com que se pode viver muito bem em Lisboa. Eu, quanto a mim, tinha ficado a curtir as vistas totalmente grátis, que também se vive muito bem assim...

Decidi passear pela rua e ver as montras. Bom, passear pela estrada, que nos passeios estão os carros das pessoas que com dinheiro vivem muito bem em Lisboa. Quando se acaba o passeio, começa o entulho. Comecei a reclamar que era uma visão terceiro-mundista, mas o Gonçalo rectificou que no dito terceiro mundo, pelo menos nos tais sítios frequentados pelas pessoas que com dinheiro vivem muito bem, há passeios e polícia na rua. Tive que admitir, aqui somos mais igualitários, o entulho na rua é para todos. Não vi tantas montras como gostaria. As galerias comerciais sucedem-se umas às outras, todas de vidro, luminosas e com um pátio interior com esplanadas. Todas têm imensas lojas vazias forradas a papel de embrulho. Pelos vistos, o tal dinheiro com que em Lisboa se pode viver muito bem não chega para comprar todas as coisas que um dia estiveram à venda nessas galerias...


o meu país imaginário (4)














Digo:
"Lisboa"
Quando atravesso - vinda do sul - o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do meu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas –
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
- Digo para ver

Lisboa, Sophia de Mello Breyner Andresen